Grammy 2025: O Que Esperar dos Principais Indicados

Uma análise inicial dos indicados ao Grammy 2025: surpresas, favoritos e apostas

Guilherme Tourinho
6 min readNov 8, 2024
Julio Cortez/Associated Press

As indicações para a 67ª edição do Grammy Awards acabaram de ser anunciadas, trazendo uma mistura de surpresas e confirmações que refletem o esforço contínuo da academia em atualizar sua imagem — por sinal, bastante desgastada.

Desde a reformulação do corpo de votantes, fica evidente a intenção de tornar o evento mais dinâmico e relevante para as novas gerações, buscando não apenas atrair um público mais jovem, mas também manter o Grammy como um espelho da evolução da indústria musical.

ALBUM OF THE YEAR

Apesar da presença de nomes interessantes — ainda que populares — como Jacob Collier e André 3000, a categoria de Álbum do Ano consegue ser uma das mais sem brilho dos últimos tempos. Este é o verdadeiro calcanhar de Aquiles da premiação, revelando como o Grammy ainda prioriza o impacto comercial sobre a qualidade artística, deixando de lado projetos que poderiam representar uma contribuição mais inovadora e autêntica à música.

É difícil apontar um vencedor, não por uma abundância de trabalhos excelentes, mas justamente pelo alto apelo comercial de todos os indicados, o que acaba ofuscando uma análise mais profunda. Ainda assim, New Blue Sun, álbum experimental de André 3000, se destaca artisticamente (mesmo que atribuir ‘notas’ a trabalhos culturais seja sempre um desafio) como o mais inovador entre os oito indicados.

O disco é uma ousada exploração instrumental, em que André combina elementos de jazz, ambient e funk, construindo paisagens sonoras imersivas sem o uso de vocais. Essa escolha arrojada faz de New Blue Sun uma experiência quase meditativa e demonstra a busca do artista por expressões criativas além dos limites convencionais.

BEST ALTERNATIVE MUSIC ALBUM

A categoria de Música Alternativa é, sem dúvida, a minha favorita este ano. Nela estão os álbuns mais inspirados e ousados de 2025, e não é exagero afirmar isso. Charm, de Clairo, foi a experiência musical mais envolvente do meu ano até agora; o disco traz um som íntimo e refinado, com uma produção delicada que explora elementos de indie pop e folk, marcando uma evolução clara na profundidade emocional da artista. Já Wild God, de Nick Cave, é uma verdadeira obra-prima — sua intensidade e lirismo visceral fazem cada faixa soar como um êxtase auditivo, transformando o álbum em um dos retornos mais poderosos das últimas décadas.

Além disso, temos contribuições brilhantes de St. Vincent e Brittany Howard, dois grandes nomes do rock contemporâneo. St. Vincent entrega um disco audacioso, misturando texturas eletrônicas com guitarras distorcidas, criando um som que é ao mesmo tempo nostálgico e futurista. Brittany Howard, por sua vez, apresenta um trabalho robusto, com influências de blues, soul e rock, que destaca ainda mais sua versatilidade vocal e a autenticidade de suas composições. Ambos os álbuns são dignos de qualquer categoria principal e provam que a Música Alternativa continua sendo um espaço de liberdade e inovação artística.

BEST ROCK ALBUM

Best Rock Album é mais uma categoria que me deixa extremamente feliz, pois reúne alguns dos nomes mais sólidos e inovadores do gênero. Os clássicos como Hackney Diamonds, dos Rolling Stones, trazem um som que mistura a nostalgia do rock tradicional com uma energia renovada. O álbum não apenas honra a tradição da banda, mas também explora novas texturas e temáticas, mostrando que os Stones ainda têm muito a oferecer.

Romance, do Fontaines DC, poderia facilmente figurar entre os indicados de Álbum do Ano. O disco é uma fusão de post-punk com letras poéticas e introspectivas, criando uma atmosfera sombria e visceral que é tanto angustiante quanto cativante. A ousadia do Fontaines DC em continuar a expandir os limites do rock contemporâneo é inegável (um dos responsáveis por não deixarem o gênero morrer) tornando Romance uma das maiores surpresas do ano.

RECORD OF THE YEAR

Antes de começar, acho justo explicar como funciona a categoria: A categoria Record of the Year (ROTY), ou “Gravação do Ano”, é concedida ao artista, produtor e engenheiro de som que participaram da gravação de uma música específica, reconhecendo a excelência em todos os aspectos da produção musical.

Dito isso, temos uma categoria difícil de prever, com opções que variam em estilo e impacto. Um dos destaques é o retorno dos Beatles com Now and Then, uma faixa que, embora não alcance o nível de clássicos como Something, ainda apresenta uma produção impecável e uma forte carga emocional. A música é resultado de uma das últimas gravações inéditas feitas pelos membros sobreviventes da banda, com a ajuda da tecnologia para completar a gravação de John Lennon. A nostalgia que evoca, combinada com sua excelente produção, pode torná-la uma favorita;

Além disso, temos canções como Espresso, que para mim é o verdadeiro hit do ano. Com sua energia contagiante e arranjos inovadores, ela mistura elementos do pop clássico e eletrônica de forma única, conquistando tanto crítica quanto público. Birds of a Feather, com seus arranjos sofisticados e uma melodia que cresce com a música, é outra faixa que não passa despercebida, enquanto Not Like Us apresenta um mix de influências e uma abordagem que agrada aos ouvidos mais atentos, com uma produção refinada e um sucesso comercial crescente. Todas essas músicas têm potencial para brigar pela premiação, com uma combinação de qualidade artística e apelo popular.

SONG OF THE YEAR

Assim como a categoria Record of the Year, é importante entender o funcionamento da premiação de Song of the Year (SOTY), ou ‘Canção do Ano’. A principal diferença entre as duas categorias está no foco: enquanto Record of the Year celebra a gravação de uma música — incluindo performance, produção e engenharia de som — Song of the Year é destinada a premiar o compositor ou compositores da música.

Ou seja, nesta categoria, o Grammy reconhece a qualidade da composição em si, levando em consideração não só a melodia e a letra, mas também a estrutura da música e a sua capacidade de tocar o público. Não importa quem a gravou ou como foi produzida, mas sim o valor artístico da canção em termos de letra e composição. Esse prêmio pode ser conquistado tanto por artistas mais estabelecidos quanto por compositores que cedem suas músicas a outros intérpretes.

Dessa forma, temos grandes nomes concorrendo, como Taylor Swift (que, surpreendentemente, nunca venceu nesta categoria, o que muitos consideram um absurdo), Beyoncé, Billie Eilish (uma das artistas mais prestigiadas da atualidade) e Kendrick Lamar. Ao analisar as estruturas rítmicas e as letras dessas músicas, minha preferência vai para Kendrick Lamar e Billie Eilish. Ambos se destacam não só pela profundidade de suas composições, mas também pela habilidade de criar uma narrativa que ressoa com o público, mesclando complexidade e acessibilidade de maneira única. Kendrick Lamar, com sua lírica afiada e consciente, continua a redefinir o papel da música no discurso social, enquanto Billie Eilish mantém sua assinatura inovadora, criando atmosferas imersivas e desafiadoras através de suas letras e produções.

Em resumo, o Grammy está se esforçando para se modernizar, mas, em alguns momentos, o apelo às novas gerações acaba tornando a premiação cada vez mais artificial e puramente comercial. Essa busca constante por relevância pode ofuscar o que realmente importa na música: a experiência de vivê-la e apreciá-la de forma genuína. No fim das contas, a melhor maneira de consumir música é através da conexão emocional com o que ela transmite, e não através de números, streams e charts.

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Guilherme Tourinho
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Written by Guilherme Tourinho

Textos inéditos todas as segundas, abordando diversos assuntos da cultura atual. Twitter : @Guitourinho

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